Parlamentar progressistas alerta para riscos ao agronegócio nacional
Fredson Aguiar – O deputado federal Luiz Ovando (PP-MS) criticou duramente a postura do governo Lula diante das novas tarifas de 10% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, classificando a reação diplomática como “tardia, genérica e ineficaz”. A medida, anunciada pela equipe econômica do ex-presidente Donald Trump, afeta diretamente setores como o alumínio, celulose, carne bovina, café e suco de laranja — pilares do agronegócio brasileiro com presença relevante no mercado norte-americano. Segundo dados do Ministério da Agricultura, os EUA representaram, em 2024, mais de 23% das exportações brasileiras de celulose, com embarques que somaram 3,02 milhões de toneladas e US$ 3,73 bilhões. No caso do café, o país liderou como principal comprador do grão brasileiro em valor, totalizando 471 mil toneladas e US$ 2,07 bilhões — cerca de 21% do total exportado. A carne bovina in natura somou 189 mil toneladas e US$ 1,4 bilhão, enquanto o suco de laranja rendeu US$ 1,2 bilhão, com forte peso nas exportações do agronegócio de São Paulo, Espírito Santo e Paraná.
Para Ovando, o setor mais vulnerável no curto prazo é o cafeeiro, que já sofre pressão de entressafra e instabilidade cambial. Ele ainda alerta que o aumento das tarifas poderá ter reflexo direto nos preços internos de alimentos básicos. “Com o café sendo sobretaxado, teremos efeito imediato no custo final ao consumidor. Isso impacta diretamente o bolso do povo brasileiro, e especialmente pequenos e médios produtores em estados como Minas, Espírito Santo, Bahia e o nosso Mato Grosso do Sul, que mantém cadeias complementares ao agroexportador”, afirmou.
O parlamentar também criticou a resposta do governo brasileiro. Embora o Itamaraty tenha enviado uma missão diplomática aos EUA no dia 1º de abril e prometido recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), a iniciativa foi classificada como “fraca e sem plano de contingência”. “Mais uma vez, Lula adota a diplomacia do improviso. Assim como fracassou no episódio com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, agora repete o erro ao não apresentar uma resposta firme e tecnicamente embasada aos norte- americanos”, pondera.
Segundo ele, a inoperância do governo na defesa dos interesses comerciais do país tem origem no “alinhamento ideológico cego” com regimes autoritários e no distanciamento do Brasil de economias democráticas e estratégicas. “Enquanto se abraça a ditaduras e governos totalitários, o Palácio do Planalto perde espaço e credibilidade com parceiros que movimentam bilhões de dólares em nossas exportações. Essa escolha tem custo alto para o produtor, para o empresário e para o trabalhador”, enfatizou. Ovando, no entanto, destacou que o momento também exige visão estratégica de médio e longo prazo, sugerindo que o Brasil amplie sua presença comercial em novos mercados. “Defender o nosso agro não significa ficar dependente de um só comprador. Precisamos abrir caminho com outros países da Ásia, do Oriente Médio e do Leste Europeu. Isso fortalece nossa soberania comercial e protege nossa economia de oscilações políticas e medidas protecionistas unilaterais”, avaliou.