Especialistas do mercado financeiro repercutem comunicado divulgado na noite desta quarta (31) e comentam sobre investimentos atrativos nesse cenário de manutenção de juros
SHZ AGÊNCIA = Nessa quarta (31), o Copom – Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa de juros Selic em 10,50%. A decisão já era um consenso entre os analistas do mercado. Em comunicado, o Banco Central deixou claro diversas preocupações como as relacionadas às questões fiscais e ao câmbio.
Análises do comunicado do Copom divulgado nesta quarta, 31 de agosto:
Luiz Rogé, economista, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset
O comunicado do Comitê de Política Monetária, o COPOM, que manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% ao ano, foi mais hawkish do que o anterior, na medida em que levantou uma variável que até então não havia sido levantada antes, que é exatamente a desvalorização do real ou a valorização do dólar frente ao real.
Essa questão cambial foi expressamente mencionada no comunicado e como um fator inflacionário assim como também como um fator que altera a expectativa de inflação.
Por conta disso, o Banco Central irá monitorar o comportamento dessas variáveis, o câmbio, para então determinar juntamente, com todas as outras variáveis que eles normalmente acompanham, as próximas decisões de política monetária nas próximas reuniões do Copom.
Só para pontuar, o comunicado dessa reunião de julho foi praticamente idêntico ao da reunião passada de junho, com exceção exatamente de uma inclusão referente a essa nova modalidade, a nova metodologia de acompanhamento da meta de inflação, e com essa inclusão, no meu entender, hawkish, na medida em que a gente está vendo uma desvalorização acentuada e uma volatilidade muito grande no câmbio, não só desde o início do ano, mas principalmente a partir de abril e com destaque para junho e julho.
Comunicado hawkish, taxa estável e dependendo de condições dessas variáveis, principalmente no meu entender do comportamento do câmbio, a gente pode ter, talvez não para 2024 ainda, mas poderemos ter, sim, alterações para cima na taxa Selic.
Hemelin Mendonça, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital
Os principais destaques, na minha opinião, foram em relação a alta da inflação, que não está sendo tão controlada como era previsto. As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026 situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.
A política fiscal, que ainda está em desajuste, impacta diretamente a política monetária. E é citada também como uma preocupação.
O tom do comunicado foi mais hawkish, muito em linha com o que os últimos relatórios do banco central têm vindo com o aumento de projeção da inflação para o final deste ano e 2025, além dos gastos do governo ainda altos, e o dólar no patamar de R$ 5,60.
Acredito que podemos esperar amanhã um dia de grande volatilidade na bolsa, já que tivemos uma decisão de juros nos EUA, no qual também os juros foram mantidos, o que quer dizer que os ativos de riscos ainda não são tão interessantes, na minha visão, já que ainda temos uma taxa de juros alta.
No final do comunicado o comitê afirmou que vai se manter vigilante e cauteloso, quanto ao cenário econômico, e principalmente com relação a manter a inflação na sua meta. Ou seja, é esperado um cenário de manutenção de juros até o fim do ano, se não houver mudanças.
Como ficam os investimentos agora?
Lucas de Caumont, gestor de investimentos e sócio da Matriz Capital Asset
Podemos até o final do ano ainda ter uma surpresa com a alta da Selic.
Na renda fixa, estamos mais alocados em pós fixados pra diminuir risco. Acredito que vale a pena também a posição em juro real em NTNBs. Todas estão pagando mais que 6% de prefixado. Nós sabemos do interesse político na queda da taxa de juros e uma vez que Campos Neto sairá e teremos presidente indicado por Lula no BC, sabemos que podemos ter uma taxa de juros sendo cortada fora da expectativa do mercado, antes da hora do que deveria ser cortada. Se isso se concretizar, quem pegou IPCA juro real, está protegido. Mas caso isso não aconteça é bom estar no pós fixado. Vértice 2035 está com melhor retorno atualmente. Já em relação aos prefixados, a volatilidade tende a manter bem alta. Pra quem tem apetite a risco, vale fazer trade de prefixado mais longo, mas tem que ter estômago.
Na bolsa, uma vez que mantemos os juros, o dólar provavelmente vai continuar forte. Então, eu olharia para empresas dolarizadas. Para controlar o câmbio teríamos que subir juros e não sabemos se isso vai acontecer. Olhando para o descontrole do câmbio, eu ficaria de olho nessas empresas. Em commodities, temos a Vale e a Gerdau, por exemplo. Em petróleo, temos Petrorio e Petrobras.
Um setor que se prejudica nesse cenário é o de Varejo, que continua defasado. Se Governo não fizer lição de casa e não baixar juros e continuarmos com um cenário de descontrole fiscal, o varejo vai continuar sendo descontrolado.
Na comparação com mercado local, vale a pena se manter dolarizado. Bolsa americana não está tão barata como estava antes, mas tem mais segurança do que risco Brasil. Techs esticaram um pouco, mas ainda tem espaço pra subir, mas como já subiram é mais pra quem tem apetite a risco. Ainda acho que o S&P está extremamente atrativo.
Ana Paula Carvalho, especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital
Há a expectativa de que nas próximas reuniões o COPOM mantenha a taxa em 10,50%aa até o fim do ano, apesar de não descartar altas à frente a depender da sinalização do governo com relação ao cenário fiscal.
Para aplicações de até 1 ano, os papeis atrelados ao CDI como o CDB, LCA e LCI são os mais apropriados, com preferência às duas últimas opções caso o prazo seja superior a 9 meses, período mínimo para cumprir a carência dessas modalidades de investimentos
Elas contam com a isenção de imposto de renda e se estiverem pagando acima de 85% CDI já serão bem melhores que os CDBs, que na média pagam 100%CDI mas que cobrará IR, sendo alíquota de 15% a menor cumprindo o prazo de 2 anos investidos.
Os títulos prefixados estão com taxas interessantes, faz sentido alocar uma pequena parte da carteira a depender do perfil do investidor, pois é uma opção mais arriscada diante das incertezas com relação à trajetória dos juros.
Já os ativos atrelados ao IPCA são indicados para os títulos de prazos mais longos, superiores a 2 anos. Esses papeis protegem o investidor das variações da inflação, já que parte da remuneração do título é corrigida pelo IPCA.
O investidor pode investir em títulos públicos através da NTN-B ou títulos de créditos privados, como as debêntures, CRA, CRI e os papeis emitidos pelos bancos como CDB, LCA, LCI ou Letra Financeira. Nos níveis atuais, o investidor consegue encontrar títulos pagando taxas acima de 6%+IPCA. Um ponto importante é sempre avaliar a classificação de risco do emissor do título.