No Brasil, a área de desenvolvimento de jogos é bastante promissora. O país é hoje o maior mercado de games da América Latina e o 10º do mundo, com uma receita que alcançou US$ 2,6 bilhões em 2023. A projeção é chegar a US$ 3,5 bilhões neste ano. Ainda, o mercado de games é maior que o de música e filmes combinados, chegando a faturar, em 2023, US$ 200 bilhões. Um dos atores de impacto nesse mercado são as maratonas de criação de jogos, que proporcionam inovação, revelação de talentos, promoção de jogos e engajamento da comunidade.
Uma das maiores maratonas do mundo é realizada nesta semana, na UFMS. Entre hoje, 12, e sexta-feira, 14, a Faculdade de Computação (Facom) sedia seletiva da GameJamPlus (GJ+). “A GameJamPlus tem destaque nacional e internacional e está na sua 10ª edição. A ideia é disseminar ainda mais a cultura de engenharia de games digitais em Mato Grosso do Sul, promovendo a evolução da GameJamPlus no Estado com parceiros como organizações, profissionais da indústria, designers, programadores e instituições de ensino”, destaca o professor da Facom e coordenador da seletiva local, Ricardo Theis Geraldi.
Segundo o docente, a seletiva recebeu 50 inscritos entre estudantes da UFMS, do Câmpus de Dourados do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul, de outras instituições e profissionais interessados na área. “A GJ+ estimula o interesse, colaboração e aprendizado por estudantes na área. Sabemos que a área de engenharia de games digitais é carente de mão de obra especializada no Brasil e necessita de mais iniciativas como esta”, acrescenta.
“A maratona envolve 14 mil participantes ao redor do mundo, 50 países, 2 mil jogos, e Mato Grosso do Sul é uma das sedes no Brasil. Todos os detalhes são importantes, envolvendo pessoas que estão na área e aqueles que querem evoluir no desenvolvimento de jogos. Nesta edição da Game Jam Plus, a final será realizada em Brasília, em maio do ano que vem”, explica o coordenador local.
O evento ocorre no formato híbrido (presencial e remoto), conforme a escolha ou disponibilidade dos participantes. Na realização da seletiva, a Facom conta com importantes apoios e patrocínios, como da Asantee Games (criadora do Magic Rampage) e da Meninus Games (Loja Geek). “Ambas são de Campo Grande, valorizam e contribuem com a indústria de games no Estado”, ressalta.
Inclusive, Bruno Fernandes, da Asantee Games, foi um dos convidados para ministrar uma palestra sobre sua experiência no mercado de criação de jogos na abertura da maratona. A Asantee, inclusive, foi uma das empresas que passou pelo processo de incubação e foi graduada pela UFMS em 2016. Ela atua no desenvolvimento de games para smartphones e tablets e tem o propósito de desenvolver algo de maneira mais independente, seguindo as próprias ideias e priorizando projetos autorais. Os jogos criados pela Asantee já alcançaram mais de 40 milhões de usuários em todo mundo. Entre os de maior sucesso está o Magic Rampage.
“O mais difícil, ao trabalhar com games, é viver disso. O caminho mais tradicional é trabalhar em uma grande empresa. Isso é um começo. Nossa área carece muito de mão de obra. Por isso, trouxe hoje a minha experiência enquanto dono de uma empresa de games”, relatou o convidado. “Em uma Game Jam, onde você tem pouco tempo, é possível trabalhar com pacotes prontos para acelerar o desenvolvimento. Nunca a primeira versão de um jogo será a que você irá lançar. A partir dela você vai mudar, fazer de novo, fazer de novo. Quando você lançar a versão 1.0, ela será a primeira apenas para quem jogar, pra você pode ser a décima”, diz.
Para ele, a inteligência artificial pode ser uma grande aliada na criação de jogos, principalmente, para ter um feedback sobre o seu projeto. “É preciso estar ligado na realidade, no momento, no que está acontecendo no mundo e no perfil de quem está jogando, pois você pode desenvolver um jogo super técnico, mas que ninguém vai jogar ou que pode causar mal-estar. É preciso ter um pé na técnica, na cultura, na criatividade, na arte, na inovação, na economia criativa, inteligência artificial. O game está em todas essas esferas. Então se você é muito técnico, é preciso de juntar a pessoas que podem te ajudar nesse sentido”, acrescenta Fernandes. “Iniciativas como a Game Jam Plus são importantes, pois te levam mais próximo do que você precisa pra chegar onde você quer. É muito difícil abrir uma empresa, mas é muito gratificante. Nada é rápido. Esse jogo que vocês estão fazendo agora, pode ser uma lembrança aqui a 15 anos. Mas, é o primeiro passo. Tenham paciência e foco”, aconselha.
Também participaram da abertura os representantes da Associação de Criadores de Jogos de Mato Grosso do Sul. “Estamos em processo de implantação da Associação. Também tenho uma empresa de criação de jogos. Fazer jogos não é fácil, por isso decidimos criar a Associação para deixar esse processo mais fácil. Temos 13 empresas em Mato Grosso do Sul, dessas apenas oito são legalizadas”, diz o presidente da Associação, Maurício de Souza. “O ambiente que vocês estão, hoje, na Universidade, é o melhor ambiente pra aprender. É onde vocês podem errar. Então, um conselho que eu dou é aproveitem muito o que a UFMS tem a oferecer, as parcerias, os professores, fiquem perto deles”, completa.
Gilvan Ferreira é estudante do curso de Engenharia de Software da Facom. Ele está no oitavo semestre e já optou pela área de criação de jogos como futura ocupação após a graduação. “Já participei de outras games james, como a Global Game Jam. Quando entrei no curso, até pensava que poderia ser uma possibilidade, mas acreditava que era algo que não teria muito futuro. Do meio pro final do curso, vi que há possibilidade de transformar esse sonho em uma empresa”, revelou.
“Este evento é importante para dar visibilidade a Facom e a UFMS no contexto da engenharia de games digitais, principalmente, destacando que hoje coordeno um time de cerca de dez alunos que estão impulsionando um projeto de extensão e de pesquisa na área de engenharia de games digitais”, finaliza o professor da UFMS.
A maratona
A GameJamPlus é considerada a copa do mundo de criação de jogos e conecta milhares de pessoas em, pelo menos, 50 países. A competição é desenvolvida em etapas. A primeira delas, que está sendo realizada na Facom, é uma maratona de desenvolvimento de 48 horas, na qual equipes criam um jogo e apresentam seu plano de negócios em um pitch. Cada edição reúne jammers, organizadores locais, criadores, universidades, empresas e comunidades para promover a inovação e a economia criativa por meio de jogos. Depois de criar o jogo em 48 horas, os participantes podem continuar aprimorando-o por meio de incubação, apresentá-lo a júris internacionais e até mesmo competir na Final Global.




Vanessa Amin






