Considerado o principal programa de intercâmbio profissional do governo dos Estados Unidos, o Programa de Liderança para Visitantes Internacionais (IVLP) visa promover prioridades das políticas públicas do país e construir relações duradouras entre líderes internacionais e americanos. Em 2025, a professora do Instituto de Biociências (Inbio) Letícia Couto foi uma das escolhidas e participou das atividades desenvolvidas em cinco cidades norte-americanas.
De acordo com o diretor de Internacionalização, Gustavo Cancio, experiências como essas demonstram o potencial transformador da ida de servidores para o exterior e a devolutiva para a UFMS, por meio de conhecimento estratégico, participação em redes internacionais e capacidade de inovação para dentro da Universidade. “A participação de uma professora da UFMS no International Visitor Leadership Program representa um reconhecimento internacional não apenas da trajetória individual da pesquisadora, mas também da credibilidade institucional”, pontua.
O diretor acrescenta ainda que o retorno para UFMS é direto e estruturante. “A professora passa a integrar uma rede global de especialistas, gestores públicos, pesquisadores e organismos internacionais, o que amplia significativamente a capacidade da Universidade de gerar cooperação científica e institucional. No caso específico do programa de Drought Preparedness and Resilience, os conhecimentos adquiridos dialogam diretamente com desafios centrais de Mato Grosso do Sul, como a gestão da água, a resiliência climática e a proteção de biomas sensíveis, especialmente o Pantanal”, complementa. “Ter representantes da UFMS dialogando nesses espaços reforça nosso compromisso com a ciência, com a responsabilidade socioambiental e com a formação de estudantes preparados para um mundo em transformação”, reforça Gustavo.
O Programa IVLP tem 85 anos e trata-se de visitas de curto prazo aos EUA para líderes estrangeiros atuais e emergentes, com o objetivo de propiciar o entendimento e o diálogo internacional em diversas áreas de interesse mútuo, além de criar uma rede de colaboração que beneficie ambos os países. “O tema do programa para a qual fui selecionada foi Preparação e Resiliência à Seca (Drought Preparedness and Resilience). Foi uma oportunidade incrível representando o Brasil, aprendendo e compartilhando conhecimento durante as dezenas de reuniões, expedições em campo e vivências, especialmente preparadas nos temas de atuação dos dez participantes de oito países – Nepal, Argélia, Brasil, Tunísia, Malawi, México, Espanha e Marrocos, dentre gestores, pesquisadores, representantes da sociedade civil, professores, diretores que ficaram em imersão durante o mês de setembro”, comenta a professora Letícia.
O itinerário abrangeu as cidades de Washington, DC, onde foram abordados o sistema federal de governo e o papel do Departamento de Agricultura e várias outras agências; Huntsville, no Alabama, com foco em agricultura resiliente e gestão de recursos hídricos; New Orleans, em Louisiana, com destaque para o impacto ambiental da seca em áreas úmidas; a região árida de Phoenix, Arizona, voltada para gestão estadual de água e irrigação; e Las Vegas, Nevada, onde foram discutidos acordos transfronteiriços e inovações tecnológicas para o manejo da água em regiões áridas e políticas públicas de adaptação e uso de espécies resilientes.
“Durante o programa, ficou claro o interesse do país no tema, uma vez que a segunda principal causa de perdas econômicas nos EUA é devido a secas. Semelhantemente, aqui no Brasil estamos vivenciando isso cada vez de forma mais intensa, especialmente para as comunidades mais vulneráveis. Por exemplo, no Atlas Global de Desertificação é previsto que o Pantanal passe de uma área úmida para semiúmida, ou seja, está secando a cada dia devido aos efeitos das mudanças climáticas. O IVLP investe na cooperação internacional e na construção de parcerias e ideias para enfrentar um dos desafios mais levantados em várias reuniões, a gestão sustentável da água em cenários de escassez. É um assunto para foco das políticas públicas”, explica a professora do Inbio.
Experiências
Sobre a programação, Letícia conta que incluiu inúmeras reuniões com mais de quarenta entidades distintas e de setores variados, incluindo governo federal, estadual e municipal, academia, institutos de pesquisa, ONGs, associações setoriais, agricultores e o setor privado de tecnologia e biotecnologia. “Os profissionais do nosso grupo ocupam funções estratégicas em ministérios, universidades, agências de pesquisa e organizações internacionais e possuem diferentes formações: engenheiros agrícolas, hidrologistas, engenheiros florestais, economistas, agrônomos, internacionalistas e eu, como bióloga”, revela.
Para a professora, um dos destaques foi o intercâmbio cultural proporcionado pela hospitalidade dos norte-americanos que os receberam em suas casas. “Eles nos ofereciam jantar, no qual foi possível estabelecer trocas entre as culturas dos países dos integrantes, vivências de esportes populares, por exemplo hockey, baseball e futebol americano, e visitas a museus e expedições em locais como áreas úmidas do delta do rio Mississipi, que é bem similar ao Pantanal”, relata.
Em relação ao tema da seca, Letícia sentiu diferença na forma como os norte-americanos tratam o assunto. “Os americanos são extremamente organizados e gastam boa parto do trabalho no planejamento de estratégias, enquanto que o Brasil, muitas vezes por ter menos recursos, atua mais nas emergências. Também fiquei impressionada com a questão da arborização. As cidades têm muitas árvores e investem muito na qualidade das árvores e dos jardins. Ainda, sobre política pública, tem um programa em Las Vegas para que seja feita troca de espécies que utilizam mais água, como a grama, por exemplo, por outras que são nativas de ambientes mais secos”, conta a docente.
“Após a troca, os moradores recebem US$ 5 por cada metro quadrado de troca de plantas. Eles dispõe de uma lista de espécies para serem usadas e a área tem que estar com 60% de cobertura de plantas (não pode trocar tudo por pedra). Também proibiram novos campos de golfe, devido a grama consumir água (non-functional grass)”, comenta. “A partir de 2027, será proibido os plantios dessas plantas. Só poderá haver grama em parquinho de crianças, cemitério e campo de futebol. Em relação a água, assim como aqui, colocaram taxa extra aos que mais consomem água (60% da água da cidade de Las Vegas é usada por 10% das casas), cobrança sazonal aumenta em certas épocas. Também conhecemos o desenvolvedor do Monitor de Secas fornecido ao Brasil”, diz Letícia.
“A ida a New Orleans me impressionou bastante, pois fica no delta do Mississipi que parece bastante com o Pantanal. Lá desviaram o rio para o leste e, como ele corria para o oeste, isso gerou imenso prejuízo ambiental, causando ameaça à extinção de espécies. Se o sistema artificial que implantaram colapsar, a cidade fica sem água. Estão tentando fazer pequenos canais para a água voltar os pântanos para restauração, mas em escala pequena, pois a economia gira em torno das ostras que precisam de água salgada. Se restaurarem os rios, a água volta a ser doce, o que geraria problemas econômicos. Lembrei do caso da hidrovia e da questão da dragagem de aprofundamento e derrocagem (retirada de rochas) e desvios de calha do Rio Paraguai, que podem afetar negativamente a hidrodinâmica do Pantanal inteiro”, comenta a docente.

Para ela, a oportunidade refletiu o reconhecimento do seu trabalho, já que para ser selecionada é necessária a aprovação do cônsul do país onde o candidato reside. “Participar desse programa é um reconhecimento e honra. Ser selecionada pelo cônsul, por acreditar no nosso potencial e no potencial do programa, é uma sensação muito boa. Após o programa, entraremos na rede Alumini para manter o engajamento com os contatos”, conclui.







