Pescadores pegam pirarucu de 1,90 m e 75 kg em SP: ‘Maior experiência’

Dois pescadores capturaram um peixe de 75 quilos da espécie pirarucu, em Mira Estrela (SP), no dia 20 de julho. O animal aquático tinha 1,90 metro de comprimento. Nativo da Bacia Amazônica, este é um dos maiores peixes de água doce do mundo.

O feito inusitado ocorreu nas águas do Rio Grande. O comerciante Julio Cezar Marques Padovezi e o eletricista Marcos Alberto Pereira da Silva são apaixonados por pescaria e já conheciam a região, que fica próxima a alguns ranchos.

“Geralmente vamos para esse ponto de pesca. O peixe foi capturado na modalidade pesca sub. Tivermos de atirar com dois arbaletes para conseguir capturar”, conta Padovezi.

Após a pescaria, eles aproveitaram para fazer algumas fotos, comparando o tamanho do animal aquático ao de uma pessoa. As imagens foram publicadas nas redes sociais, e a exuberância e o porte do pirarucu impressionaram diversas pessoas.

Em seguida, o peixe foi limpo, e os pescadores retiraram o couro e repartiram a carne ao meio. O prazer de provar uma proteína saborosa e suculenta é indiscutível, mas, para eles, a experiência de fisgar uma das espécies mais cobiçadas do mundo foi extremamente valiosa.

Algo inédito na vida dos dois, que estão habituados a desbravar pontos diferentes do rio, em busca dos melhores pescados.

“Foi a maior experiência de captura de peixe que poderia ter como pescador. Nunca tinha pescado um peixe desse tamanho. Estou muito feliz por ter realizado um sonho”, conta Julio.

Passada a emoção inicial, no entanto, o pirarucu gerou preocupação entre a dupla de amigos. O fato de ser uma espécie que não é nativa da região despertou interesse e vontade de entender um pouco mais sobre os riscos que isso pode trazer para a cadeia ecológica dos mananciais na região noroeste do estado de São Paulo.

“Acho que deveria ter mais estudo e pesquisa para ver realmente qual o impacto dele nas águas dos nossos rios”, opina Marcos Alberto.

Habitat exótico

Dizer que fisgou um pirarucu nos rios do interior de São Paulo deixou de ser história de pescador há cerca de dez anos, quando começaram a surgir as primeiras capturas.

A forma como a espécie foi inserida em um habitat exótico ainda é um mistério para as autoridades ambientais. O que se sabe é que ela se adaptou muito bem às condições climáticas e encontrou maneiras para se alimentar e se reproduzir no Rio Grande.

Pirarucu capturado em Mira Estrela (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista, Cassius José de Oliveira, major da Polícia Ambiental, explica que há rumores sobre a introdução irregular da espécie na região, mas, até o momento, não houve uma comprovação:

“Existem especulações acerca de que algum criador possa ter contribuído para o acesso dessa espécie ao manancial do Rio Grande. Não temos essa informação de maneira precisa”, explica.

Ainda segundo ele, existem outras espécies que não fazem parte da bacia hidrográfica da região e que também são encontradas com facilidade na região, como, por exemplo, o tucunaré (Cichla ocellaris) e o porquinho (Cavia porcellus).

Somente os estudos científicos serão capazes de abordar os efeitos, a longo prazo, da presença do pirarucu no interior de São Paulo.

“Quanto a eventual risco, é muito prematuro fazer tal afirmação sem que haja um estudo científico adequado, bem como não se pode prematuramente dizer que a presença dessa espécie de peixe no manancial trate-se de um problema, até porque existem outras espécies de peixes convivendo com espécies naturais na bacia hidrográfica, sem que causem desequilíbrio ecológico”, finaliza.

‘Bacalhau do Norte’

Thiago Maia Davanso, biólogo e doutor em zoologia em São José do Rio Preto (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Conhecido por ser um dos maiores peixes de água doce do mundo, o pirarucu – Arapaima gigas -, popularmente chamado de “bacalhau do Norte”, pode ultrapassar os três metros de comprimento e pesar até 220 quilos.

Comum na Bacia Amazônica, o pirarucu é uma espécie muito antiga. Ele já estava no planeta bem antes do surgimento dos primeiros seres humanos e chegou a conviver com os dinossauros, há 200 milhões de anos.

Também é conhecido como “gigante pré-histórico” e precisa ir até a superfície da água para respirar. Alimenta-se de invertebrados aquáticos, como insetos, moluscos e crustáceos.

Riscos

Para Thiago Maia Davanso, biólogo e doutor em zoologia, a presença da espécie na região noroeste representa riscos à saúde de outros animais aquáticos.

“Sua introdução e proliferação em ecossistemas fora de sua área nativa pode resultar em um risco para as demais espécies, podendo levar algumas à extinção local”, explica Davanso.

Por ser um peixe de qualidade e alto valor comercial, muitos piscicultores investiram na criação da espécie. A grande quantidade de carne representa lucro, mas a captura excessiva do pirarucu também pode representar ameaça à sua extinção em seu local de origem.

Retirá-lo dos rios da região não é uma tarefa fácil e exige empenho e esforço das autoridades e da população.

“Eliminar uma espécie invasora, como o pirarucu, é uma tarefa complexa, principalmente pelo seu tamanho e características reprodutivas. É essencial trabalhar em colaboração com biólogos, ecologistas e demais gestores de recursos hídricos para desenvolver e implementar um plano de manejo adequado. Para tal, o monitoramento e pesquisa são fundamentais”, finaliza Davanso.

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