Na véspera do Natal de 2014, foi oficializada em Mato Grosso do Sul a campanha Novembro Azul. Essa é a cor, na mesma paleta do céu, que “veste” a Assembleia Legislativa durante as noites deste mês. A beleza de cor e luzes busca chamar a atenção para um problema nada belo: o câncer de próstata. A doença mata, no Estado, em média, quatro homens semanalmente. E são esperados, até 2025, 1.230 novos casos por ano.
De autoria do deputado Zé Teixeira (PSDB), a Lei Estadual 4.636, que instituiu o Novembro Azul, foi publicada no dia 24 de dezembro de 2014. Durante os dez anos que se seguiram desde então, a Casa de Leis intensifica, neste mês, o alerta para a necessidade da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata, caminhos fundamentais para se reduzir as estatísticas de óbitos.
Para alcançar esse objetivo, é imprescindível a informação, como destaca o deputado Zé Teixeira. “A batalha contra o câncer de próstata começa com informação”, enfatiza. “A proposta do Novembro Azul é conscientizar o maior número possível de homens sobre a importância do diagnóstico precoce”, reforça. E alerta: “A diferença entre o diagnóstico precoce e o tardio pode ser a diferença entre a vida e a morte”.
Como a informação é essencial – conforme destaca o deputado Zé Teixeira -, é preciso entender, de início, o que são a próstata e o câncer de próstata. O médico urologista João Juveniz explica: “A próstata é um órgão do sistema urogenital, que fica embaixo da bexiga. Faz parte do sistema miccional, porque ajuda no controle urinário, e também na ejaculação, pois fabrica grande parte do ejacular”.
O médico acrescenta que as alterações mais comuns da próstata são o aumento benigno, a infecção e o câncer. “O aumento benigno é chamado de hiperplasia prostática benigna; a infecção, de prostatite; e o câncer, de próstata”, detalha.
O câncer de próstata é uma doença silenciosa, sem sintomas no início, o que evidencia a importância do diagnóstico precoce. “O câncer de próstata afeta a parte periférica da glândula, enquanto o aumento benigno a parte interna. Por isso que os sintomas urinários, como aumento da frequência, jato fraco, gotejamento, esvaziamento incompleto, acordar várias vezes à noite para urinar, estão relacionados com o aumento benigno, porque afeta a parte interna. Já o câncer de próstata afeta a periferia da glândula e, por isso, não apresenta sintomas na sua fase inicial. E quando os sintomas aparecem, a doença já está em estágio avançado”, explica o médico.
Essa ausência de sintomas justifica a necessidade do diagnóstico o quanto antes. “Se conseguirmos detectar precocemente, podemos fazer o tratamento e curar mais de 95% dos pacientes. Então, está aí a importância de fazer o diagnóstico precoce”, reforça.
Câncer de próstata mata quatro homens por semana em MS
Como muitos homens não realizam o diagnóstico e o tratamento precoces, ainda é acentuado o número de mortes. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), 2.223 sul-mato-grossenses morreram em decorrência do câncer de próstata em dez anos, de 2013 a 2022 (ano do último levantamento do Instituto). Esse valor equivale à média de quatro óbitos por semana.
O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais frequente na população masculina do Brasil, superado apenas pelos tumores de pele não melanoma. O Inca estima a ocorrência de 71.730 novos casos de câncer de próstata em todo o país anualmente para o triênio 2023 a 2025. Em Mato Grosso do Sul, a estimativa é de 1.230 novos casos por ano.
Vitória sobre o câncer e muitas manhãs de chimarrão
Quem for à casa de João Ermelino de Mello, 73 anos, no início da manhã de qualquer dia, vai encontrá-lo na varanda tomando chimarrão. “É a hora de conversar, de colocar o plano do dia, porque a hora do chimarrão é das seis horas até às sete e meia”, conta o gaúcho João, que mora há 42 anos em Mato Grosso do Sul.
O prazer das manhãs de chimarrão e tantos outros prazeres da vida de João resistiram e persistiram ao câncer de próstata, vencido há pouco mais de dez anos depois de muita luta. Essa batalha se iniciou com o diagnóstico precoce, o que foi fundamental para que a vitória se efetivasse.
“Sempre fui assíduo na rotina de realizar exames. Então, no início do ano de 2003 já tinha feito meus exames, porém, em outubro, a empresa que eu trabalhava exigiu de todos os representantes novos e diversos exames. Foi neste momento que fiz o PSA e que resultou em uma alteração”, relata João Ermelin
Foram anos de enfrentamento da doença. “Eu optei por operar em abril de 2004. Em 2010, apareceram uns resquícios, mas não no mesmo local. Em 2011, fiz quatro sessões de quimioterapia injetáveis e 34 sessões de radioterapia. Estamos em 2024 e não tive nenhum problema”, resume.
A luta contra a doença foi árdua, mas João buscou manter a tranquilidade. “Neste instante em que tu fica sabendo [do diagnóstico], dá aquele desespero, mas tu vai conversando com os médicos e vai ficando tranquilo. Porque é tranquilo”, afirmou com convicção. “Tu tem aquele espanto porque a palavra câncer te lembra algo maligno. Mas eu assumi bem a situação”, acrescentou o “gaúcho sul-mato-grossense” que, graças a seu cuidado com a saúde e à realização do diagnóstico precoce do câncer, pôde seguir com as suas agradáveis manhãs de chimarrão, sentindo-se bem acolhido na terra do tereré.
Osvaldo Júnior – Foto: Aline Kraemer