Menina de 10 anos é morta pelo pai

Na madrugada de 10 de agosto de 2023, a polícia de Surrey, Inglaterra, recebeu uma ligação desesperada vinda do Paquistão. Um homem, identificado como Urfan Sharif, confessava o impensável: “Matei minha filha. Não era minha intenção, mas bati demais nela.” A declaração marcou o início de uma investigação que revelou anos de violência e negligência na vida de Sara Sharif, uma menina de 10 anos.

Sara foi encontrada sem vida em sua casa em Woking, no sudeste da Inglaterra, pelo policial George Van Der Wart. Ela estava em um beliche, coberta por lençóis, com ferimentos que indicavam prolongado sofrimento físico. O corpo apresentava hematomas, traumatismo craniano, ossos fraturados, marcas de mordidas e queimaduras de ferro.

Anos de violência negligenciada

O caso de Sara revelou um padrão de violência e omissão que se estendia por toda a sua curta vida. Filha de pai paquistanês e mãe polonesa, Sara nasceu em meio a um histórico de abusos domésticos e negligência. Desde 2010, quando ainda não havia nascido, o conselho tutelar local e a polícia já tinham registros de violência contra outros membros da família.

Ao longo dos anos, Sara foi retirada do lar duas vezes para acolhimento familiar, mas acabou retornando para os cuidados do pai e, posteriormente, de sua madrasta, Beinash Batool. Apesar das preocupações recorrentes levantadas por escolas, vizinhos e assistentes sociais, as medidas tomadas pelas autoridades se mostraram insuficientes.

Relatos ignorados e sinais negligenciados

A escola St. Mary’s, onde Sara estudava, frequentemente relatava marcas de agressões, como hematomas em seu rosto e corpo. Mesmo após a denúncia de um ferimento no queixo em março de 2023, o conselho tutelar concluiu a investigação sem tomar ações efetivas, recomendando apenas que a escola “monitorasse” a situação.

Em abril, Sara foi retirada da escola sob a justificativa de educação domiciliar. Isso cortou um dos poucos laços de proteção que a menina tinha, já que a escola era uma das principais fontes de denúncia.

A escalada de violência e a morte

Nas semanas que antecederam sua morte, Sara foi submetida a torturas constantes. Segundo o julgamento, ela sofreu agressões físicas severas, incluindo golpes com um taco de críquete e queimaduras. As mensagens da madrasta para familiares relatavam espancamentos brutais e sinais de sofrimento extremo, mas nenhuma denúncia foi feita.

No dia 8 de agosto, Sara sucumbiu aos ferimentos. Seu pai, Sharif, afirmou que ela estava “fingindo” e voltou a agredi-la. Pouco depois, sua morte foi confirmada por um dos irmãos, que enviou uma mensagem desesperada a um amigo: “Minha irmã acabou de falecer.”

Responsabilização e reflexões

O julgamento do caso, ocorrido no Old Bailey, tribunal de Londres, condenou Sharif e Batool por assassinato, enquanto Faisal Malik, tio de Sara, foi considerado culpado por permitir a morte da criança. Durante o processo, veio à tona a extensão das falhas das autoridades, incluindo o conselho tutelar e a polícia local, que não conseguiram intervir de maneira eficaz.

A morte de Sara levanta questões urgentes sobre os mecanismos de proteção infantil no Reino Unido. Especialistas alertam para o risco adicional enfrentado por crianças retiradas do ambiente escolar. “Quando estão fora da escola, elas perdem o apoio protetor desse espaço, tornando-se ainda mais vulneráveis”, destacou Annie Hudson, presidente do Painel de Revisão de Práticas de Proteção Infantil.

Um legado de tristeza

Na antiga escola de Sara, um banco decorado com bolinhas foi instalado em sua homenagem. “Sara era uma menina cheia de vida, que adorava música e sonhava em se apresentar no programa The X Factor“, lembrou a diretora Jacquie Chambers. “Sua morte é uma tragédia que jamais será esquecida.”

Agora, o caso de Sara serve como um alerta para autoridades e comunidades. Ele expõe a necessidade de políticas mais robustas e de uma resposta coordenada para proteger as crianças mais vulneráveis.

Compartilhe:

Sobre Nós

Somos seu portal de notícias confiável e atualizado, trazendo as principais informações locais, nacionais e internacionais. Nossa equipe dedicada trabalha 24 horas por dia para oferecer jornalismo de qualidade, com credibilidade e imparcialidade.

© 2024 Todos Os Direitos Reservados – Gazeta Morena