Além do bicentenário do nascimento de D. Pedro II com lançamento de 13 cultivares
O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, comemora seus 138 anos em uma cerimônia especial que também homenageia o bicentenário de D. Pedro II, fundador da Instituição. O evento será nesta terça, 02, a partir das 16h, na sede do Instituto, em Campinas.
Ao unir tradição e inovação, a programação reforça o papel do Instituto como referência em ciência agrícola no Brasil. O IAC comemora com o lançamento de oito novas variedades de laranja com características voltadas tanto para o consumo in natura quanto para a indústria, além de uma variedade inédita de limão. Entre os lançamentos, duas laranjas chamam atenção pela coloração vermelha da polpa devido à presença de licopeno ou antocianina, além de maior concentração de carotenoides totais, em comparação com as laranjas de polpa amarela.
São apresentados também dois novos híbridos de milho branco para alimentação humana desenvolvidos para oferecer alto rendimento, estabilidade produtiva e qualidade superior de grãos. Complementando os avanços, o setor sucroenergético recebeu na última semana duas novas cultivares de cana-de-açúcar, ampliando as opções para produtores e fortalecendo a competitividade nacional.
As oito novas cultivares de laranja disponíveis para a citricultura brasileira têm características diversas para mercados de mesa e indústria, sendo duas diferenciadas pela coloração – uma é sanguínea e outra é de polpa vermelha com pouquíssima semente. Duas são laranjas limas – de baixa acidez para consumo in natura -, e uma com pouca semente destinada à produção de suco industrializado. Há também uma variedade de limão que apresenta boas características de suco, indicado para indústria e mesa.
“Em 2025 registramos oito variedades de laranja e uma de limão, aumentando o portfólio de variedades copa IAC disponíveis para a indústria e para o mercado de frutas frescas. Essas variedades mostraram aptidão para cultivo em diferentes regiões, desde o extremo Sul até o Norte de São Paulo, regiões mais frias e quentes do estado, respectivamente, e muitas se mostraram resilientes e com potencial de adaptação mais abrangente, garantindo a produção e a produtividade de citros mediante os desafios crescentes de mudanças climáticas”, comenta Marinês Bastianel, pesquisadora do IAC, da Diretoria de Pesquisa dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
As cultivares de milho branco IAC 2027 e IAC 2039 trazem oportunidades aos produtores para ocupar nichos no mercado de canjica, farinha, milharina e gourmet. Ressalta-se que Brasil há poucas opções de milho branco para atender aos agricultores.
“Ao produzir grãos brancos, convencionais, isto é, não transgênicos, o produtor entra em segmento menos saturado, com menor competição e possibilidade de contratos diferenciados”, comenta Maria Elisa Zagatto Paterniani, pesquisadora do IAC.
Novo busto de D. Pedro II

Será inaugurado o busto em homenagem ao imperador, instalado em frente ao prédio D. Pedro II. A peça – fundida em bronze – foi produzida em um trabalho artístico durante 50 dias. O processo envolve a criação do molde, feito pelo artista Edu Santos, escultor da Fundiarte, empresa responsável pela produção da obra. O molde é feito com 45 quilos de argila. Depois, outro molde é elaborado em borracha de silicone, um contramolde em fibra de vidro e só então segue para os diversos processos de fundição em cobre, finalizados com pátina.
No dia 02, ainda será apresentado o livro “Instituto Agronômico IAC – Legado de D. Pedro II e Atualidade”, que resgata a história da Instituição e sua relação com seu fundador.
“Fizemos as bases da agricultura tropical e cá estamos, com 138 anos de um trabalho de excelência, referência no Brasil e em muitos outros países. O IAC tem suas peculiariedades: é a Instituição de pesquisa agrícola mais antiga da América Latina, fruto da visão de um estadista, o imperador D. Pedro II, que projetou essa Instituição importantíssima para o agronegócio nacional. Vale ressaltar que durante décadas o Instituto praticamente existiu sozinho”, comenta o coordenador do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.
A programação também inclui a entrega do Prêmio IAC como reconhecimento à a excelência científica e ao compromisso institucional. Este ano será homenageado o pesquisador Sérgio Augusto Moraes Carbonell, responsável pelo programa de melhoramento genético do feijoeiro, e a funcionária de apoio, Lígia Regina Lima Gouvêa, aprovada no mais recente concurso de pesquisadora científica da Apta.
A vice-coordenadora, Regina Célia de Matos Pires, ressalta que o IAC vem trabalhando de forma ininterrupta e disponibilizando tecnologias, produtos e serviços que incluem novas cultivares, com melhor tolerância aos estresses bióticos e abióticos, além de tecnologias para a produção agrícola por meio do monitoramento climático, uso racional da água e informações relacionadas à produção do solo. “Os 138 anos de existência do IAC e suas tecnologias transformaram a vida de muitos agricultores e da sociedade como uma toda”, considera.
Conheça as características de cada variedade de citros
Duas com diferencial da coloração
Laranja IAC 67 Tarocco: variedade sanguínea verdadeira que, nas condições de cultivo no país, necessita de armazenamento de frio para acúmulo de antocianina, pigmento natural responsável pela cor roxa da polpa, do suco e da casca que a diferencia de outros materiais. Pode ser consumida in natura ou usada para indústria de suco. Sua maturação é precoce e meia estação, permitindo a colheita em menor tempo.
Laranja IAC 356 Puka: de polpa vermelha devido à presença de licopeno e com pouquíssima semente, pode também ser utilizada para indústria e consumo de fruta fresca.
“A Tarocco tem antocianina e a Puka tem licopeno. As variedades que produzem antocianinas e apresentam cor vermelha do fruto dependem de frio. São comuns na Itália. No Brasil, devido às condições de clima, os frutos têm coloração amarela quando maduros e na pós-colheita dependem de armazenamento a frio para ficarem vermelhos arroxeados. Já as de polpa vermelha – como a Puka – têm esta cor independentemente de clima”, explica Marinês Bastianel.
Boa tolerância ao cancro cítrico
Três desses novos materiais têm boa tolerância ao cancro cítrico, uma das mais importantes doenças que afeta a maioria das variedades comerciais. Essa característica permite o cultivo em áreas endêmicas como parte de estratégia de manejo. A legislação atual permite pomares com a doença em certas regiões, desde que adotadas medidas de mitigação, incluindo o uso de variedades tolerantes ou resistentes. São tolerantes:
IAC 153 Peramel: com poucas sementes, é indicada para consumo in natura e para indústria com bom rendimento de suco. É produtiva e de meia estação.
IAC 479 Campbell: tem boas características de suco e é indicada para indústria. É produtiva e sua maturação é tardia.
Laranja 1357 Chafeei: tem boa qualidade de suco e é indicada para indústria. Tem maturação tardia e boa produção.
Laranja lima
As duas limas – Lima IAC 11 Prima e IAC 2054 Primavera – são variedades com baixa acidez indicadas para consumo in natura – como fruta fresca ou suco. Ambas são bastante produtivas. A diferença é que a IAC 11 é precoce, isto é, pode ser colhida em menor tempo e a IAC 2054 Primavera tem maturação tardia.
Limão
Limoneira 8A é uma variedade de limão tipo siciliano que apresenta boas características de suco, indicado para indústria e mesa.
Laranja IAC 96 Parnazzogoiás tem boas características de fruto e é indicada para indústria. Tem maturação precoce.
IAC 2027 e IAC 2039 chegam para o mercado carente de milho branco
O programa de melhoramento de milho do IAC acaba de lançar dois novos híbridos de milho branco, registrados junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). O milho branco costuma obter maior valorização em relação ao milho amarelo, especialmente para usos alimentícios – característica que contribui para aumentar a renda dos produtores.
“Em épocas de maior demanda – como festas juninas e datas regionais de consumo de canjica – o milho branco pode alcançar melhores preços sobre o milho amarelo convencional. Em algumas regiões, há relatos de ágio de até 20% a 50%”, afirma a pesquisadora do IAC, Maria Elisa Zagatto Paterniani.
Com mercado bem estruturado, os estados de São Paulo e Paraná têm tradição no cultivo desse tipo de grão. Mas esses novos híbridos podem ser implantados em regiões do Mato Grosso, Minas Gerais e Sul de Goiás, se observada a adaptação climática e o manejo local.
IAC 2027
O IAC 2027 tem cor branca uniforme e ótimo índice de sanidade. Apresenta tolerância média ao enfezamento – principal doença da cultura do milho, reduzindo perdas e uso de fungicidas -, e a outras doenças foliares, como mancha de turcicum e cercosporiose. Tem alta produção de grãos, porte alto e é precoce.
IAC 2039
O IAC 2039 se diferencia pelos grãos semiduros, considerados ideais para canjicas. Tem alta produtividade de grãos, com estabilidade produtiva mesmo em condições menos favoráveis, além do ciclo precoce.
O milho branco é utilizado principalmente para alimentação humana, em pratos que variam de acordo com a cultura culinária. No Brasil é usado para fazer curau e canjica, tortilhas no México, arepas na Venezuela, fubá branco e farinha na América Latina e África, além de atender também aos mercados de alimentos sem glúten, orgânicos e não-transgênicos.
“Além desses nichos, também é possível interagir com outras cadeias, como núcleos regionais de produção de canjica e estabelecimentos artesanais, fortalecendo o agronegócio local”, considera Maria Elisa.
Participam desse trabalho também os pesquisadores Paulo Boller Gallo, Vera Lúcia Nishijima P. de Barros, Rogério Soares de Freitas, Cristina Fachini. As atividades iniciaram com a doutoranda da PG-IAC, Sara Regina Silvestrin Rovaris.
Os novos materiais poderão ser produzidos em parceria com a empresa LatinaSeeds, intermediada pela Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag).
Duas novas variedades de cana
O Instituto Agronômico celebra os 138 anos também com duas novas variedades de cana-de-açúcar – IAC07-2361 e IACCTC09-6166 – para o Centro-Sul do Brasil. Esses materiais, lançados na última semana, ampliam as opções de diversificação varietal, essenciais para a sustentabilidade e competitividade da canavicultura paulista e brasileira.
A variedade IAC07-2361 apresenta excelente adaptação à mecanização no plantio e na colheita, tem alta produtividade e rusticidade, além de raro florescimento. Tem porte semiereto, com boa resistência ao acamamento.
A variedade IACCTC09-6166 apresenta Período de Utilização Industrial (PUI) longo, favorecendo a produtividade agrícola e a qualidade da matéria-prima. Tem excelente adaptação às condições de cultivo mecanizado, destaca-se pela elevada produtividade e pela manutenção de uma população uniforme de colmos ao longo dos cortes. Tem alta adaptabilidade a diferentes ambientes. Possui porte semiereto e boa resistência ao acamamento.
Os resultados obtidos ao longo de sucessivos ciclos de cultivo evidenciaram elevado desempenho agronômico, estabilidade produtiva e adaptabilidade.



