Dores contínuas, rigidez nos membros e cansaço intenso. Esses são alguns dos primeiros sinais da artrite reumatoide, uma doença autoimune inflamatória que afeta diretamente a autonomia e o bem-estar. Mesmo crônica, ela pode ser controlada com o tratamento adequado, que é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Neste Dia Mundial de conscientização (12 de outubro), especialistas dos Hospitais da Rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) reforçam como o diagnóstico ágil e o acompanhamento multiprofissional melhoram as condições de saúde e a funcionalidade no dia a dia desses pacientes.
A dor é persistente, inclusive à noite, e costuma vir acompanhada de inchaço e rigidez, mas é principalmente sentida nas primeiras horas do dia (chamada rigidez matinal). A doença pode ser causada por fatores genéticos, infecções e tabagismo, informa o médico. O sistema imunológico ataca as articulações, gerando a inflamação crônica. Junto à avaliação clínica, os exames laboratoriais e de imagem (como raio-x e ultrassonografia) auxiliam o diagnóstico.
Tratamento
O reumatologista Márcio Reis, do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Humap-UFMS), esclarece que a artrite reumatoide pode surgir em qualquer idade, inclusive na infância, mas é mais comum entre os 30 e 50 anos, e afeta mais mulheres do que homens.
O especialista também aponta que o tratamento busca dois objetivos principais: aliviar os sintomas (dor e inflamação) e evitar a progressão da doença. “O tratamento melhora a dor e evita deformidades. Esse é um ponto importante: conseguimos evitar, mas, uma vez que alguma deformidade apareça, ela é irreversível. Por isso, temos que tratar o mais precocemente possível”, explica.
Os medicamentos para tratamento estão disponíveis pelo SUS (metotrexato, sulfassalazina e leflunomida). Em casos mais graves, o paciente pode ter acesso a imunobiológicos (de alto custo, produzidos por tecnologia de engenharia genética), que também estão disponíveis na rede pública. Ainda há um terceiro grupo de remédios, os inibidores da JAK, remédios de alvo específico que atuam reduzindo a inflamação. Todas as substâncias devem ser prescritas por médico.
Artrite é diferente de artrose
“Antigamente, infelizmente, a artrite levava a deformidades graves. Com diagnóstico precoce e com os tratamentos modernos, isso não ocorre mais”, descreve o reumatologista Roberto Ranza, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU). Segundo o médico, a artrite reumatoide atinge principalmente as articulações periféricas, como mãos, punhos, joelhos e tornozelos, mas é sistêmica, ou seja, está presente no corpo inteiro.
Apesar de nomes e sintomas parecidos, a artrite é diferente da artrose. Enquanto a artrite reumatoide é a inflamação direta das articulações, a artrose é uma doença degenerativa e compromete a cartilagem (tecido que envolve os ossos nas articulações). Ou seja, na artrose, o tempo vai desgastando a cartilagem e o atrito entre os ossos causa a dor. “Na artrose, a dor vem do movimento, do uso das articulações. Já na artrite, a dor é contínua, 24 horas por dia”, explica Ranza.
Movimento e qualidade de vida
A dor e a perda de mobilidade provocadas pela artrite exigem, além do tratamento medicamentoso, o atendimento multidisciplinar. “Os principais obstáculos são a dor intensa e a rigidez articular, sobretudo a rigidez matinal, que torna o simples ato de levantar e começar o dia extremamente difícil. Além disso, a inflamação dificulta tarefas manuais que exigem destreza, como abotoar roupas ou abrir potes”, exemplifica o fisioterapeuta Rossini Lucena, do Hospital Universitário Júlio Bandeira, da Universidade Federal de Campina Grande (HUJB-UFCG).
O acompanhamento fisioterapêutico é um dos pilares que ajudam a reduzir a dor e a evitar deformidades. Os exercícios, conforme aponta Rossini, preservam a mobilidade das articulações em três aspectos: “Primeiro, os alongamentos mantêm a amplitude de movimento, impedindo que os tecidos fiquem rígidos; segundo, o fortalecimento muscular cria uma proteção ao redor das articulações, estabilizando e reduzindo a sobrecarga; e, por fim, a atividade física de baixo impacto ajuda a diminuir a inflamação geral, o que reduz a dor e encoraja o movimento”, detalha.
Apoio é fundamental para conviver com a doença
Nilma Rodrigues, de 69 anos, enfrentou 12 anos de sintomas sem diagnóstico. “Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Sentia dor, inchaço, rigidez, mas não sabia o motivo”, conta. O diagnóstico veio em 1994, quando tinha 38 anos, com o início do acompanhamento reumatológico no HC-UFU.
Hoje, Nilma leva uma vida com boa capacidade funcional e conta que busca manter hábitos saudáveis, com pilates três vezes por semana e alimentação equilibrada, e o seu tratamento pelo Hospital. Além das consultas e exames, ela realiza infusões mensais com medicamento fornecido pelo SUS.
Nilma escolheu dar um novo significado ao enfrentamento da doença e foi uma das fundadoras e atual presidente da Associação dos Reumáticos de Uberlândia e Região (ARUR), que oferece apoio a pacientes. Ela destacou que informação e apoio são essenciais para conviver com a artrite: “Orientamos as pessoas sobre a importância do protagonismo com a patologia e que a adesão ao tratamento, a realização de atividade física e a ajuda psicológica são pontos fundamentais pra qualidade de vida”, afirma.