A operação no Rio de Janeiro e a lição de que algoritmo não muda opinião

Por Wilson Pedroso*

O governo do presidente Lula aplicou mais de R$ 450 mil, em apenas quatro dias, no impulsionamento de posts das redes sociais com conteúdo sobre segurança pública. A ação de comunicação foi realizada entre 29 de outubro e 1º de novembro, pouco depois da megaoperação deflagrada pelo Governo do Rio de Janeiro contra a facção criminosa Comando Vermelho, nos complexos do Alemão e da Penha. Mas o fato é que a estratégia de marketing – que destinou quase meio milhão de reais ao Instagram e ao Facebook – gerou controvérsias e pegou mal junto à opinião pública e à imprensa. Não que comunicação seja pouco importante, pelo contrário; mas é uma área em que altos investimentos precisam ser bem justificados.

A operação realizada na capital carioca no dia 28 de outubro foi a mais letal já registrada no país, tendo resultado na morte de 121 pessoas. A princípio, as imagens dos corpos perfilados na rua chocaram a população, mas à medida em que as informações começaram a ser divulgadas, a iniciativa passou a ter apoio popular. Isso aconteceu justamente porque, junto às ações de segurança, também foram realizadas ações de comunicação estratégicas. Em pouco tempo, o Governo do Estado conseguiu fornecer informações detalhadas sobre os mortos, indicando que a maior parte possuía envolvimento criminal.

A narrativa apresentada pelo Rio de Janeiro ganhou força com o apoio da opinião pública. Uma pesquisa realizada e divulgada pelo instituto Genial/Quaest no dia 1º de novembro revelou que 64% dos moradores do estado aprovaram a operação. A aprovação inclui inclusive moradores de comunidades. Na data seguinte, nova pesquisa mostrou que a aprovação do governador Cláudio Castro (PL) subiu 10 pontos percentuais entre agosto e o fim de outubro, em reflexo da megaoperação. Agora, o nome dele começa a se despontar como uma das maiores alternativas da direita para as eleições presidenciais de 2026, com a impossibilidade de Jair Bolsonaro entrar na disputa.

Enquanto o Rio de Janeiro e a direita assumiam a narrativa, o Governo Federal desempenhou papel de coadjuvante, para não dizer de mero figurante. A avaliação no Planalto foi de que o episódio poderia impactar negativamente a imagem de Lula, que recentemente vem passando por um importante momento de boa avaliação. E foi na tentativa de virar esse jogo e de dialogar com a população que a equipe de Lula correu para as redes sociais com a decisão de intensificar o impulsionamento pago. Um dos conteúdos impulsionados diz que “matar 120 pessoas não adianta nada no combate ao crime” e defende “mais inteligência e menos sangue”. Os demais posts falam sobre o PL Antifacção, de autoria do Poder Executivo, e sobre a PEC da Segurança Pública, defendida pelo Governo para integração das forças policiais do país.

O mesmo Governo que criticou a operação, classificada como “matança” por Lula, usou as redes para comprar alcance digital, fazer campanha publicitária. E deu errado. Esse é um episódio que nos ensina muito: não se ganha no feed a batalha perdida na rua. Dinheiro compra resultado de algorítimo, mas não constrói narrativa e não embasa opinião. E mais: ao eleitor não interesse o discurso, interessa propósito e ação.

*Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing; além de sócio estrategista do Instituto de Pesquisa Realtime Big Data

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